quinta-feira, 12 de março de 2009

A velhice

Já aqui falei do meu Pai que fez no ano passado a bela soma de 80 anos. Passa os dias a queixar-se que dói aqui, que dói ali... quem me dera a mim chegar à idade dele com os problemas que ele tem. As dores de coluna, de pernas entre outras são sinais do tempo e recordações de África e do que lá sofreu. Mas há amizades que nem nos lembramos onde começaram: é o caso da minha Clementina. A minha Clementina era casada com um Senhor que me lembro de ser uma grande figura de homem, alto, bonito para a longa idade e a amizade vem exactamente do tempo dos meus Pais. Eram amigos do meu Pai e daí o carinho que tenho pela minha Clementina. Ela sempre me tratou muito bem, com um carinho extremo e falando sem rodeios. Sempre apreciei a honestidade daquela Senhora, a frontalidade sobre qualquer assunto e grandeza que exalta quando fala. No cimo do seu metro e pouco de altura (era Engraçado vê-la ao lado do seu Gouveia que era alto, muito alto) a Clementina começou a estreitar laços comigo e quando podia ia tomar café com ela, conversar horas a fio. Com 83 anos... penso não me estar a enganar em nenhum a mais nem a menos, a Clementina continuava autónoma até à bem pouco tempo. Desde o ano passado que reparei na queda contínua que ela começou a apresentar. Cheguei a pensar que fosse alguma doença má, destas da moda; começou por lhe aparecer uma verruga ou algo parecido na ponta do nariz, fez ferida, meses e meses e não curava. Começou a emagrecer, a cair. No meio disto tudo existem 3 jovens que tenho muita pena de não conhecer, filhos de um casal muito amigos dela e do marido que a adoptaram e a levam sempre para Lisboa na Época do Natal, do frio, das Festas. Neste momento vieram cá falar com a Santa Casa da Misericórdia para que estes lhe levem comida a casa todos os dias. Ontem fui dar um beijo à Clementina... custou-me muito ver uma grande Senhora que, mesmo quando estava de rastos o conseguia esconder, a chorar à minha frente quando enfrentando a vida que consegue ter neste momento. Sempre achei que chegar a velhinho deveria ser lindo mas não agarrado a uma cama sem ter noção de quem é ou onde está. Mas ontem conclui que ter a noção perfeita de tudo e do declínio que nos acontece num dado período da vida deve ser muito mais doloroso que estar em estado vegetal. Saber o que fomos e no que nos tornamos passa a ter mais peso que o prémio de ter uma longa vida. E o futuro de cada um de nós é uma incógnita. Eu guardo um sorriso sempre para a minha Clementina e tenho pena de a ver sofrer... muita mesmo!

Sem comentários: